Estreio hoje no Sabor Sonoro. Mais uma entre tantas que já fiz. E sempre aquela dúvida sobre como começar bem. A vantagem é que a música não me abandona nunca e quando preciso dela está aqui, ao meu alcance, não importa em que formato.
Meus primeiros textos foram publicados no esquema de xerox, com cópias distribuídas a um seleto grupo de outsiders de Uberlândia. Hoje, pela primeira vez redijo direto no iPad, o que não considerava possível. Sou old school em tantos sentidos… E sou resistente a mudanças. Porém, não tenho vergonha de dar o braço a torcer quando essas mudanças são realmente para melhor.
Nicolas Gomes/Divulgação.
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AMOR: VIOLINOS E LIVROS VELHOS
Por isso, a primeira banda escolhida para sua apreciação no Sabor Sonoro é a Violins, de Goiânia. Meu caso com eles foi amor à primeira audicão. O ano era 2001. Chovia na capital goiana e em um pequeno teatro eu senti o então Violins & Old Books. Senti nos ouvidos e na alma. Soube logo que era uma das primeiras apresentações do grupo que lançava o EP “Wake up and Dream” (2001). A voz de Beto Cupertino tornava-se ali, para mim, um marco no indie rock nacional.
Criei um caso de amor com músicas como “Fireworks”, “Camus” e “Mirrors”. E o Violins & Old Books entrou, definitivamente, no meu playlist de favoritos. Mas um verdadeiro amor não está imune ao tempo e nem às decisões tomadas de forma unilateral. O amor está sujeito a rachaduras em sua estrutura. E não demorou muito para que meu relacionamento com o Violins & Old Books fosse abalado.
TRAIÇÃO: ADEUS AOS LIVROS VELHOS
Em 2003 eu me senti traída. Me deparei com um novo disco, “Aurora Prisma”. O Violins deixou de lado o Old Books e o inglês. Não sei ao certo, mas chegou a cogitar-se que o vocalista e guitarrista Beto Cupertino não aguentara tantas comparaçoes com Thom Yorke, líder do Radiohead. “Até parece que foi ele quem inventou o falsete”, me disse uma vez o Beto em uma das entrevistas que fiz com ele. Agora o Violins cantava em português. E eu, como taurina resistente a mudanças, não aceitei. E a partir daí, rompi com a banda.
SEGUNDA CHANCE: GRANDES INFIÉIS
Um amor de verdade a gente nunca esquece. Ele sempre volta de uma forma ou de outra. Minha birra com o Violins durou quase três anos. E, com o sugestivo título “Grandes Infiéis” (2006) saiu mais um disco. Mas eu não cedi facilmente. Deixei ele por muitas semanas engavetado e fechado. Pensava se valia a pena tentar de novo. As possibilidades eram poucas. A chama seria acesa novamente; a decepção seria definitiva ou despertaria um terrível sentimento: a indiferença.
Com minha mania old school que ainda preservo, abri a embalagem, vi o encarte, li as letras, a ficha técnica e coloquei no CD player para tocar. Foi um tapa na cara. “Hans”, a faixa de abertura, me derrubou direto, sem direito a rede de proteção. E a queda foi doce e cheia de obstáculos que só fizeram minha admiração aumentar. Ao ouvir composições como “Atriz” e “Vendedor de rins” eu caía sem medo de me quebrar porque a primeira impressão ainda valia. Beto Cupertino é mesmo um compositor ímpar da sua geração. E as melodias, arranjos e toda a sonoridade do disco ia do sufocante ao êxtase, sem que eu saísse do lugar.
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