Um dia acordei do avesso, sentindo uma coisa ruim que não sei o nome e uma vontade verdadeiramente desesperada de não sei o que. Logo em seguida uma pessoa querida me convida pra cozinhar em um Zazenkai, um curto retiro zen budista voltado pra prática da meditação. Aceitei imediatamente já toda, toda, bem toda feliz. Ufa!
Fiquei esperando o dia chegar como se espera o dia do Natal. Pesquisei, rabisquei, desenhei algumas receitas com borboletinhas no lugar dos pingos dos “is”. Feliz!
Alguns dias depois, chegaram os monges e… me apaixonei. Claro, na hora fiquei sem saber se fazia reverência ou se saia correndo e abraçava, quinem criança feliz faz. Fiz as duas coisas. Depois descobri que monge não se abraça, mas esses dois eram como se fossem de uma família que já tive e que fazia muito tempo que não nos encontrávamos (acho que to perdoada). Então descobri que monge também gosta de cerveja artesanal com pizza de abobrinha.
No dia do grande dia, chegamos ao lugar paradisíaco do retiro, onde o verde entrava na casa e a casa tinha barulho de cachoeira. Cozinhei no meio do verde, com cheiro de flores e na cozinha eu tinha duas ou três ajudantes que mais pareciam anjos, e outros tantos bem ao lado meditando. Deu vontade de fechar os olhos e deixar a mão fazer tudo sozinha, mergulhar naquele silêncio feliz típico das coisas de verdade. E no meu mundo de Alice, viajei de olhos fechados vendo toda aquela comida virando felicidade.
Sei que escrevi “feliz” muitas vezes. Mas não pude me conter.
Bom, se você quer fazer comida para meditar, aqui vão algumas dicas e receitas: que seja tudo leve, de fácil digestão e antifermentativo. Sucos verdes caem muito bem. Brotos. Germinados. Não se usa alho e cebola, nem nada que vá fazer você ficar ”lembrando” depois. Tudo vegetariano.
Então começamos o café da manhã com chá, café e suco. Coalhada seca com sal de ervas, frutas na casquinha, biscoito de polvilho e geleia de abacaxi com hortelã.
No almoço, tivemos um delicioso caldo de cabotiá com maça e gengibre, enfeitado com taioba refogada quiabo assado com pimenta biquinho, arroz integral com quirela e cenoura, salada da horta e esse quibe de berinjela. Sobremesa foi melancia com tomilho e batida de café com banana.
Caldo de cabotiá, maçã e gengibre
6 porções
Ingredientes
– 1/4 de abóbora cabotiá
– 4 maçãs
-1 gengibre
– sal, azeite e pimenta do reino
– taioba ou couve
Preparo
Se preferir um caldo mais fino e delicado, descasque as maças e a abóbora antes de cozinhar, neste eu deixei as cascas, que são muito ricas nutricionalmente, mas dão um aspecto mais “rustico”. Descasque o gengibre e pique em pedaços pequenos, doure no azeite e adicione as maçãs e a abobora picados em pedaços. Deixe dourar um pouco e adicione 2,5 litros de água, sal, pimenta do reino e deixe cozinhar. Quando estiver tudo bem macio, desligue e bata no liquidificador ou mixer. Pode ser servida quente ou fria.
Corte a taioba (ou couve) bem fininha e refogue com manteiga e sal. Faça um “ninho” enrolando o garfo, e coloque por cima do caldo.
Quiabo assado com pimenta biquinho
6 pessoas
ingredientes
– 400 g quiabo
– 80 g pimenta biquinho
– sal e azeite
Preparo:
Lave e seque o quiabo e a pimenta. Coloque em uma assadeira com azeite e sal. Leve ao forno 200º até dourar. Misture a cada 10 minutos pra dourar por igual.
Melancia com tomilho – Foto Jane Côbo |
Foi um dia espetacular que ficou no meu coração. Quem quiser conhecer essas pessoas adoráveis, entre no site do Via Zen.
E pra acompanhar… A Paz – João Donato & Gilberto Gil