Uma das coisas que mais me incomodam no mundo do vinho é a ideia de que somente podemos apreciar essa bebida acompanhada de comidas sofisticadas. Ao contrário de outros povos, principalmente os europeus, o brasileiro tem o hábito de elitizar o vinho, torna-lo uma bebida somente para ocasiões especiais.É claro que ainda é uma bebida cara no Brasil, porque os impostos, o olho grande do importador, a margem de lucro abusiva do varejista, só pra citar os maiores problemas que vejo, deixam o vinho inacessível para grande parte da população. Daí, o vinho fica caro, embora com 30 reais no bolso possamos encontrar boas opções no mercado.Mas essa equação – bebida cara pede comida sofisticada – está começando a ser desmistificada e todos nós que escrevemos sobre comidas e bebidas temos a obrigação de ajudar nisso.
No dia 28 de maio foi comemorado o Dia Mundial do Hambúrguer. Não me perguntem os motivos pra essa data, porque embora tenha feito uma pesquisa não encontrei informações precisas sobre isso. Mas posso garantir que muita gente escreveu a respeito nos últimos dias sobre esse lanche que conquistou o mundo.
A partir dessa data muitos blogs de vinhos publicaram suas harmonizações entre vinhos e hambúrguer, mostrando que a combinação é possível e pode dar resultados muito interessantes. Então, achei que seria um bom tema para minha coluna mensal aqui no Sabor Sonoro, que até já publicou uma receita de hambúrguer caseiro (relembre).
Então vamos lá.
Em casa a Érika gosta de fazer um hambúrguer com carne bovina mais magra (patinho ou peixinho), linguiça calabresa e temperos. Servido no tradicional pão para sanduíche, é acompanhado por queijo, salada e às vezes bacon. Um lanche nutritivo, muito gostoso e sem excessos gordurosos. Quando feito na churrasqueira fica ainda melhor.
Já foi harmonizado com cerveja de trigo (que fica muito interessante também), mas sempre procuro um vinho para acompanhar. Pra não errar a mão, procuro sempre por um vinho mais fácil de beber, ou seja, sem aqueles taninos poderosos e que deixam a gengiva seca. Tem que ser um vinho com uma acidez mais moderada, porque não há tanta gordura assim pra combater e de preferência o vinho precisa ter alguma pontinha doce, um frutado sem exageros.Pra escrever essa coluna escolhi um vinho francês que há algum tempo queria provar, vindo da região do Rhône. Esses vinhos não são tânicos, tem uma boa acidez (mas sem exageros) e são fáceis de beber, com a fruta presente. Perto de um Tannat ou de um Malbec amadeirado são muito delicados.Como o sanduíche tem sabores salgados, o adocicado do molho e a acidez do tomate, as notas levemente adocicadas provocam uma sensação nova na boca, sem se sobrepor à comida, mas sem perder pontos pra ela. Enfim, o ideal para qualquer harmonização.
Sobre o vinho: é um corte (assemblage) de duas variedades, a importante
Grenache (70%) e a tradicional
Syrah (30%) e não tem passagem por barricas de carvalho, deixando o vinho mais franco, com suas características sendo notadas com facilidade, sem ser mascarado pela madeira.Você pode tentar outros vinhos, como um Malbec ou um Carmenère menos encorpados, um Merlot brasileiro mais jovem de preferência sem madeira ou até um Pinot Noir do Novo Mundo, como os chilenos ou neozelandeses. São vinhos mais fáceis e com as características que encontrei nesse tinto do Rhône.Saúde a todos!
Gil Mesquita
Professor universitário em cursos jurídicos, enófilo apaixonado, mantém desde 2006 o blog Vinho para Todos.
www.saborsonoro.com.br