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Vinho & Mesa :: Arroz carreteiro e Marselan, um belo par!

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A origem do arroz carreteiro, ou arroz-de-carreteiro, é o Rio Grande do Sul. Em tempos de longas viagens dos tropeiros a melhor opção era levar charque para cozinhar com arroz. O resultado era um prato de alto valor calórico, cujos ingredientes poderiam suportar bem as viagens sem se deteriorarem.

Embora essa seja a origem, encontramos receitas diferentes em praticamente todo o Brasil. No nordeste o prato “Maria Izabel” é bastante semelhante, feito com carne de sol.

Mas aqui em casa gostamos de cozinhar o carreteiro com sobras do churrasco. Na verdade, sempre colocamos um pouquinho a mais de carne na grelha pensando justamente em preparar o prato. Picanha, linguiça e fraldinha se juntam à cebola, tomate, pimentão e ervas para fazer a alegria da família.

Sei que em alguns lugares o prato pode ficar mais seco, mas aqui em casa deixamos a cebola dourar por muito tempo e depois acrescentamos o tomate picado, tudo isso antes de acrescentar o arroz. O resultado é um arroz mais “molhadinho”. Ovos cozidos também aparecem para decorar e é nossa “licença poética” em relação ao prato.

Há alguns dias fizemos um carreteiro em casa pensando justamente na coluna para o Sabor Sonoro. Mas, com qual vinho poderíamos harmonizar?

Se você procurar em livros dificilmente vai encontrar boas dicas a respeito. Só que pensando no prato, sua suculência e força, pensei imediatamente num tinto com boa acidez e taninos presentes, que fosse levemente rústico, mas sem agressividade. É que para lidar com a gordura da carne – que se espalha pelo arroz – é preciso um tinto com essas características.

Talvez essas informações não tenham ajudado muito, porque inúmeros vinhos se enquadram nas características acima. Então, optei por escolher um vinho do Rio Grande do Sul, até mesmo para aplicar uma das regras de harmonização: comida regional combina com vinho da região.

Então, escolhi esse Marselan Identidade, da Casa Valduga, safra 2006. É um vinho que provamos em várias ocasiões e ele está cada vez melhor, evoluindo muito bem na garrafa. Inclusive já foi comentado lá no blog Vinho para Todos (veja aqui) em 2008 e continua em ótima forma em 2013.

A Marselan é uma uva pouco conhecida pela maioria dos consumidores brasileiros. De origem francesa, é um cruzamento entre a Cabernet Sauvignon e a Grenache. Em solo brasileiro tem dado vinhos muito interessantes, como os elaborados pela vinícolas Larentis, Cave de Pedra, Dom Cândido e Perini.

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O vinho que escolhemos é elaborado pela Casa Valduga numa região ao sul do Vale dos Vinhedos, mais precisamente em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste. Trata-se de uma região com clima mais favorável às uvas tintas e por isso as vinícolas têm feito apostas e alcançado bons resultados por lá.

Quanto ao vinho, ele tem exatamente o que precisávamos para a harmonização. Um tinto aromático, fruta madura, especiarias, lembrança elegante da madeira. Na boca a gordura do prato é envolvida pelos taninos finos e pela boa acidez. As especiarias do vinho combinaram bem com as ervas aromáticas do prato.

Foi um daqueles exemplos em que o prato melhora com o vinho e o vinho torna-se grandioso com o prato.

Saúde a todos!

Gil Mesquita

Professor universitário em cursos jurídicos, enófilo apaixonado, mantém desde 2006 o blog Vinho para Todos.
www.vinhoparatodos.com.